terça-feira, 30 de março de 2010

DESERTO










As minhas mãos já souberam criar
As minhas mãos já souberam amar
Agora, cada gesto traz a sombra da dor
A marca ferida do ferro que roubou o amor

Estou perdido num deserto
Despido, sem emoções
Corri atrás da paz e das suas versões
Libertei fúria e espalhei ferrões

A matar queimei a inocência
E perdi-me no concreto
Sem já saber olhar
Sem já saber pensar

As minhas mãos já souberam criar
As minhas mãos já souberam amar
As minhas mãos perderam o poder de encantar
As minhas mãos foram armas
Que não soube controlar

E agora cada gesto dói
Cada silêncio destrói
O que resta do meu ser
Porque a alma pega fogo quando deixa de amar

VERDADE

























Esta fé que me consome
É servida por um deus que não dorme
É desprovida de amor e confiança
É feita de medo
E alimentada de intolerância

Em cada palavra o vazio
De uma verdade surda
Inquestionável
Imutável.
Que em cada gesto, cada olhar
Procura o imoral
Em desprezo pela beleza.

Com uma espada na mão
Na outra um sagrado coração,
Distorcido pela vaidade
Desprovido de amor
Roubado da sua verdade
Apregoa aos ventos
Uma divina vontade
Escrita em sangue
Pela vaidade do Homem

quinta-feira, 11 de março de 2010


As árvores de fogo abraçam o meu espaço
Consomem o meu ar
As árvores de fogo marcam o horizonte da minha janela
Todos os dias se alinham
Como soldados vigilantes da calma aparente dos dias
As árvores de fogo
Abanam possuídas pelo vento
Que sopra para longe o fogo da sua aura
As árvores de fogo adormecem com o dia num lugar sombrio
As suas chamas erguem-se quando o sol se despede
E por momentos breves
Dançam numa volúpia lenta
Que embala o meu ser
As árvores de fogo
Choram a dor dos céus
E como ritmadas goteiras cantam ao chão
As árvores de fogo
Brilham nas alturas
E abraçam-me todos os dias
As árvores de fogo
São as rainhas da minha janela
Embalam o meu olhar incendiando a mente
Espicaçando a liberdade
A flutuarem livremente num eterno fogo-fátuo